3.3.a. História da língua no Brasil
No início da colonização portuguesa no Brasil
(a partir da descoberta, em 1500), o tupi (mais precisamente, o
tupinambá, uma língua do litoral brasileiro da
família tupi-guarani) foi usado como língua geral na
colônia, ao lado do português, principalmente
graças aos padres jesuítas que haviam estudado e
difundido a língua. Em 1757, a utilização do tupi
foi proibida por uma Provisão Real. Tal medida foi
possível porque, a essa altura, o tupi já estava sendo
suplantado pelo português, em virtude da chegada de muitos
imigrantes da metrópole. Com a expulsão dos
jesuítas em 1759, o português fixou-se definitivamente
como o idioma do Brasil. Das línguas indígenas, o
português herdou palavras ligadas à flora e à
fauna (abacaxi, mandioca, caju,
tatu, piranha), bem como nomes próprios e
geográficos.
Com o fluxo de escravos trazidos da África, a língua
falada na colônia recebeu novas contribuições. A
influência africana no português do Brasil, que em alguns
casos chegou também à Europa, veio principalmente do
iorubá, falado pelos negros vindos da Nigéria
(vocabulário ligado à religião e à cozinha
afrobrasileiras), e do quimbundo angolano (palavras como
caçula, moleque e samba).
Um novo afastamento entre o português brasileiro e o europeu
aconteceu quando a língua falada no Brasil colonial não
acompanhou as mudanças ocorridas no falar português
(principalmente por influência francesa) durante o século
XVIII, mantendo-se fiel, basicamente, à maneira de pronunciar
da época da descoberta. Uma reaproximação ocorreu
entre 1808 e 1821, quando a família real portuguesa, em
razão da invasão do país pelas tropas de
Napoleão Bonaparte, transferiu-se para o Brasil com toda sua
corte, ocasionando um reaportuguesamento intenso da língua
falada nas grandes cidades.
Após a independência (1822), o português falado
no Brasil sofreu influências de imigrantes europeus que se
instalaram no centro e sul do país. Isso explica certas
modalidades de pronúncia e algumas mudanças superficiais
de léxico que existem entre as regiões do Brasil, que
variam de acordo com o fluxo migratório que cada uma
recebeu.
No século XX, a distância entre as variantes
portuguesa e brasileira do português aumentou em razão
dos avanços tecnológicos do período: não
existindo um procedimento unificado para a incorporação
de novos termos à língua, certas palavras passaram a ter
formas diferentes nos dois países (comboio e
trem, autocarro e ônibus,
pedágio e portagem). Além disso, o
individualismo e nacionalismo que caracterizam o movimento
romântico do início do século intensificaram o
projeto de criação de uma literatura nacional expressa
na variedade brasileira da língua portuguesa, argumento
retomado pelos modernistas que defendiam, em 1922, a necessidade de
romper com os modelos tradicionais portugueses e privilegiar as
peculiaridades do falar brasileiro. A abertura conquistada pelos
modernistas consagrou literariamente a norma brasileira.
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